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Reabilitação de FachadasDesde a introdução do cimento Portland no nosso país, os monumentos da era anterior a este cimento têm sido reabilitados com rebocos de cimento. Tal prática, para além de inadequada, apresenta uma reduzida longevidade, pois este tipo de reboco, embora mais económico e rápido de trabalhar, não oferece a compatibilidade necessária com suportes de pedra e argamassas antigas.
As consequências mais visíveis são as fissuras por retracção restringida (rachas), que aparecem ao fim de algum tempo, assim como "salitre" que normalmente é associado a areias mal seleccionadas, ou seja areias salgadas. O facto é que o reboco de cimento, para além de não permitir a correcta respiração das paredes - o que provoca o apodrecimento das argamassas ligantes das pedras estruturais das mesmas - ele próprio contém sais que são trazidos à superfície pelos efeitos da capilaridade. Em monumentos classificados, tem-se recorrido à cal hidráulica, como forma de minimizar estes efeitos. Sendo esta uma solução preferível à dos rebocos de cimento, não são a solução ideal, pois, entre várias questões, apresentam também problemas de fissuração por retracção restringida. Ambas as soluções que apresentámos anteriormente reagem com a água e por esse facto, sempre que em contacto com esta, por acção da chuva ou de infiltrações, tendem a reagir, apresentando com o tempo fissuração. As consequências da fissuração são conhecidas: permitem a entrada de água/humidade na parede, provocando a sua degradação, assim como piora o ambiente interior, pelo aumento da humidade relativa, pelo aparecimentos de fungos, cheiro a mofo, etc. |
Aplicação de Cal à Antiga: do Passado para o Futuro...
Como já referimos, as soluções mais utilizadas na reabilitação de fachadas de edifícios antigos, não são as adequadas, acabando muitas vezes por provocar mais danos dos que os que pretendem solucionar. De acordo com estudos realizados pelo LNEC (VEIGA, M. Rosário – Argamassas para revestimento de paredes de edifícios antigos. Características e campo de aplicação de algumas formulações correntes. Actas do 3º ENCORE, Encontro sobre Conservação e Reabilitação de Edifícios. Lisboa, LNEC, Maio de 2003.) as argamassas de cal aérea com aditivo pozolanico são as mais adequadas para a reabilitação de fachadas antigas de alvenaria, eis algumas vantagens:
- Não fissuram por retracção restringida
- Elevada durabilidade (já utilizada pelos romanos como ligante, em construções que chegaram aos nossos dias)
- Permite uma adequada respiração da parede, evitando a acumulação de humidades que tendem a apodrecer as argamassas ligantes da parede
- Pode ser pintada (ver pintura) ou levar um reboco de acabamento com pó de mármore branco, sendo este o tratamento final, sem necessidade de pintura e elevada duração
- Produto 100% natural
- Fabricado em Portugal
- Aplicável manualmente ou por projecção
Obra: Igreja de Sta. Cruz no Barreiro
A empena sul da igreja apresentava graves problemas de estabilidade do reboco existente. O reboco de cimento sobre a alvenaria antiga, denotava ter sido alvo de várias intervenções passadas, apresentava sinais de apodrecimento e de iminente derrocada. A fachada foi picada "até ao osso", tendo sido aplicada manualmente uma camada de cal na aérea de regularização. Após o necessário período de secagem, aplicou-se o reboco pelo método de projecção. Opcionalmente aplicou-se um reboco fino de acabamento constituído por cal e pó de mármore branco. O resultado antes de pintar pode ser observado na foto inferior à esquerda.